terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mercado publicitário rejeita Twitter fora dos EUA

Por MARK SCOTT
BERLIM - Distribuídos de Manila a Madri, os não americanos representam mais de três quartos dos 232 milhões de usuários do Twitter.
O problema é que a empresa, que entrou na Bolsa no início de novembro, ainda está tentando descobrir como ganhar dinheiro com essas pessoas.
No terceiro trimestre deste ano, 26% da receita total do Twitter veio de mercados fora dos EUA. Era 17% no fim do ano passado, segundo relatórios oficiais.
Marcas que atuam fora dos EUA são céticas quanto ao impacto publicitário internacional dessa mídia, comparado ao impacto no mercado americano. Além disso, o Twitter enfrenta dura concorrência de rivais locais, como a Line do Japão.
Uma semana depois de sua abertura de capital, o Twitter foi avaliado entre US$ 30 e 35 bilhões, mas continuou um ator relativamente pequeno no mundo da publicidade digital.
A companhia sediada em San Francisco deverá captar apenas 0,5%, ou US$ 580 milhões, dos gastos totais mundiais em publicidade digital deste ano, segundo a empresa de pesquisas eMarketer. Compare isso aos US$ 6,4 bilhões que provavelmente serão gastos no Facebook em 2013.
Muitas multinacionais, como Nestlé e Unilever, estão procurando aumentar seus gastos em publicidade em mídias sociais, conforme seus clientes passam cada vez mais tempo on-line. Mas analistas dizem que o impacto relativamente pequeno do Twitter torna mais difícil vendê-lo.
O Twitter obteve US$ 2,58 em receita nos EUA para cada mil visitas de usuários no terceiro trimestre, comparado a apenas US$ 0,36 no resto do mundo, segundo documentos oficiais.
Mas a afinidade do Twitter com celulares pode ajudar a empresa no plano internacional, já que ela obtém mais de 70% de sua receita de clientes móveis.
No entanto, em muitos mercados de maior crescimento do Twitter, como Brasil e Índia, convencer os marqueteiros locais a gastar mais em anúncios poderá ser um desafio.
Muitos consumidores nesses locais ainda usam aparelhos de baixo custo, que não oferecem as mesmas experiências de mídia social dos smartphones mais avançados.
Os consumidores dos mercados emergentes também podem não ter o mesmo acesso a redes de alta velocidade que seus homólogos nos EUA e, por isso, ainda não respondem às mesmas técnicas de publicidade.
O Twitter também enfrenta obstáculos para crescer em mercados emergentes como a China, onde o acesso é bloqueado ou há concorrentes locais bem estabelecidas.
A empresa disse que pretende expandir suas vendas e equipes de marketing onde os mercados publicitários locais estão bem instalados, como na Austrália e no Japão.
Desde agosto, a companhia vem ampliando vídeos patrocinados na França e na Austrália e fazendo acordos de patrocínio no Brasil.
Durante o festival Rock in Rio, em setembro no Brasil, por exemplo, a Garnier, fabricante de xampus e outros cosméticos, patrocinou clipes do evento que foram colocados no Twitter pela Globosat, provedora de TV a cabo e satélite.
"O Twitter ainda não está bem nesses mercados", disse Oliver Eriksson, da agência de publicidade digital VML em Londres, acrescentando que a empresa ainda tem de provar que sua plataforma de publicidade pode alcançar consumidores internacionais.
"Eles precisam fazer isso depressa, para que as marcas tenham confiança de que o Twitter pode agregar valor."

Marketing público: O marketing político pensa só no eleitor, o marketing público vai além e pensa no cidadão

NIZAN GUANAES
Quando as eleições se avizinham, tenho sempre meu nome lembrado por variados partidos políticos para fazer campanhas. Sinto-me honrado com a lembrança, mas sou empresário, no comando de um grupo de comunicação com mais de 3.000 colaboradores e um sonho grande de firmá-lo entre os maiores do mundo do qual não posso me desviar.
Fui, aliás, um marqueteiro acidental. Era o redator criativo da campanha de FHC --criava os comerciais. O marqueteiro mesmo era o grande Geraldo Walter, meu sócio. Na reeleição, ele morreu de um câncer galopante, e coube a mim o papel de marqueteiro, para o qual não tinha nem estofo nem maturidade. Mas, guiado pelo professor Lavareda, lá fui eu.
Odeio a palavra marqueteiro, ela é uma gozação que nossos amigos jornalistas inventaram. E a praga colou.
E marqueteiro não ganha eleição. Marqueteiro perde.
O importante é o candidato, a circunstância política, as alianças, o plano de governo, o discurso, a visão. Mas isso no Brasil, em geral, está virando "marquetagem". Os candidatos dizem o que dá nas pesquisas. Os comerciais são todos testados. Fica tudo com cara de Botox. Tudo com cara igual.
Todos os que vêm falar comigo querem que eu tire da cartola um slogan, um comercial de 30 segundos que ganhe a campanha. Isso não existe.
O Brasil precisa de uma visão, de um conjunto de ideias que apaixonem o país.
É preciso transitar do marketing político para o marketing público. O marketing político pensa só no eleitor, o marketing público vai além e pensa no cidadão.
O marketing político faz a campanha, o marketing público ajuda a pensar políticas públicas. O marketing tradicional pensa só na venda. O marketing moderno foca a experiência da compra, os problemas, a fidelização. É uma visão maior, inclusiva e progressista.
O marketing público constrói partidos reais, e partidos reais constroem o país.
Getúlio e Juscelino tiveram ideias. Certas, erradas, modernas, absurdas. Mas eram ideias. Tinham visão e senso de história.
Não tenho ouvido até agora em entrevistas, comerciais, debates, nada que arrebate, nada de emocionante, que empolgue o Brasil.
Não temos que discutir a melhor campanha, mas as melhores propostas. As grandes campanhas foram aquelas que tinham propostas contundentes, não maquiagem e produção de Hollywood.
Não precisamos discutir se Dilma, Aécio e Campos ou Marina são boas pessoas. São todos boas pessoas. É preciso discutir o que eles farão pelo Brasil.
Assumindo aqui o papel de provocador, não do especialista, fico pasmo com a falta de ambição e de um grande plano, por exemplo, para o turismo no Brasil, com os grandes ímãs da Copa do Mundo e da Olimpíada já diante de nós. É preciso pensar o turismo como uma das coisas mais fundamentais do Brasil, com sua capilaridade nacional e populacional e seu poder de atração para o Made in Brazil.
Indo ao mais básico, a educação e a saúde, que já estão sendo repensadas, inclusive com o empurrão democrático das ruas. Qual o repensamento logístico para distribuir saúde e educação? Não pode haver sinergias nessa entrega, já que o consumidor desses serviços é a mesma pessoa? O que podemos fazer com as novas e incríveis ferramentas digitais para reduzir os custos do governo?
Uma provocação ainda maior: vamos redividir o Brasil por planos de vocação, aglutinando em torno de gestores competentes núcleos de desenvolvimento --um Brasil agropecuário, um Brasil industrial, um Brasil turístico e outros. Isso obviamente sem aumentar a máquina administrativa, pelo contrário, reunindo recursos, conhecimento e cérebros para gastar menos e fazer mais, de forma multidisciplinar.
Portanto está na hora das ideias, não de maquiagens.
Precisamos de ideias que emocionem o mais simples dos homens e que possam não só trazer votos mas, principalmente, levar esse país a dar o novo salto que ele tanto carece.
Na velocidade que ele precisa e na ambição do seu tamanho.
Fonte: Folha, 26.11.13.