quinta-feira, 17 de abril de 2014

JORNALISTAS: Ranking de impunidade tem Síria em 5º e Brasil em 11º

A Síria está em quinto no ranking de países onde jornalistas são mortos e os responsáveis não são punidos, informou o Comitê para a Proteção dos Jornalistas. O Iraque lidera a lista, que traz o Brasil em 11º lugar.

    terça-feira, 15 de abril de 2014

    NIZAN GUANAES: Ouvido social


    Os consumidores não só estão falando pelas marcas como estão sendo escutados por elas
    Costumo dizer que tudo o que ofende o consumidor recebe a penalidade máxima, que é o desprezo do consumidor. Se isso era verdade no século 20, é muito mais verdade neste século 21.
    As marcas estão cada vez mais nas mãos dos consumidores.
    Eles não só estão falando pelas marcas como estão sendo escutados por elas. É o que os americanos chamam de "social listening".
    Não só é preciso como também é cada vez mais possível ouvir a polifonia social em relação ao seu produto e à sua marca. O feedback é incalculável. Toneladas de informações são despejadas todos os dias nas mídias sociais --jazidas imensas e renováveis que estão sendo crescentemente garimpadas para direcionar vendas, produção e marketing.
    Grandes marcas globais já lançaram produtos baseados nesse tipo de interação. Elas hoje têm formas muito mais eficientes e rápidas de coletar e analisar o pensamento dos seus consumidores espalhados pelo mundo para determinar o desenvolvimento de novos produtos e readequar os já disponíveis no mercado.
    Pesquisa recente nos EUA aponta que o uso de mídia social na criação de novos produtos cortou custos e reduziu o tempo de elaboração e lançamento. A pesquisa revelou ainda que os produtos produzidos dessa forma ganharam mais mercado e mais aceitação dos clientes.
    Os "focus groups" (grupos focais), que foram criados na Universidade Columbia, em Nova York, e se espalharam pelo mundo décadas atrás, sempre mostraram seu valor na aquisição de conhecimento de mercado. Até hoje, eles consistem basicamente na reunião de um grupo de pessoas representativas do setor que se quer pesquisar ao qual é submetida lista de perguntas sobre percepções, opiniões e atitudes em relação a um determinado produto, serviço ou conceito.
    Os participantes desses grupos estão livres para dar suas ideias e trocar opiniões com os outros. Mas formam um universo muito limitado em números de pessoas e estão sempre guiados pelas perguntas do entrevistador/moderador do encontro.
    Essas entrevistas guiadas seguirão tendo seu valor. Mas agora existe um turbilhão de registros espontâneos sobre as marcas e os produtos espalhados da forma mais abrangente possível pela sociedade consumidora em termos de demografia, renda e geografia.
    É muita informação, ubíqua e intermitente. No Brasil, ela é ainda mais valiosa que em mercados já maduros porque aqui há muito mais para ser compreendido.
    O mercado brasileiro ganhou dezenas de milhões de novos consumidores nos últimos anos, um avanço que não deve ser subestimado e que veio para ficar.
    É um novo consumidor, mas ele não é novo por igual. Não existe só uma nova classe média. O novo consumidor da Amazônia quer produtos diferentes do novo consumidor do Nordeste, que quer produtos diferentes do novo consumidor do Sudeste e assim por diante. As empresas que entenderem (ouvirem) primeiro seus desejos, suas diferenças e também suas semelhanças terão mais luz no caminho.
    Esse movimento em direção ao consumidor (na economia) e ao cidadão (na política) é global.
    Os EUA, maior economia do mundo, sempre foram o símbolo de país movido por consumo. Agora a segunda economia do mundo, a China, reorienta sua economia nessa direção. O modelo de crescimento chinês baseado em exportações, produção e investimentos atingiu seus limites e é reorientado para o consumo pelo próprio Partido Comunista.
    O Brasil está nessa há muitos anos. Os economistas, aliás, dizem que essa corda já esticou demais e que agora precisamos crescer via investimentos e produtividadeAssim seja. Mas as dezenas de trimestres em que o consumo das famílias avançou no país deixaram como legado um mercado consumidor muito maior, mais diversificado e mais exigente.
    Precisamos ouvi-lo em todos os níveis. As ferramentas estão aí.
    O Brasil sempre teve ouvido musical. Agora precisa de ouvido social.
    Folha, 15.04.2014

    Pulitzer premia série sobre esquema de espionagem nos EUA: Principal prêmio para o jornalismo no mundo foi para o britânico "Guardian" e o americano "Washington Post"

    Ambos basearam suas reportagens em material vazado pelo ex-técnico de segurança Snowden, hoje exilado na Rússia
    ISABEL FLECKDE NOVA YORK
    A série de reportagens que revelou o amplo esquema de espionagem do governo americano por meio da Agência de Segurança Nacional (NSA) deu ao jornal britânico "The Guardian" e ao americano "The Washington Post" o Pulitzer, o mais prestigiado prêmio de jornalismo do mundo.
    Segundo a Universidade Columbia, responsável pela premiação, a cobertura dos jornais "estimulou um debate sobre a relação entre o governo e o público em temas de segurança e privacidade".
    "As reportagens foram além de documentos vazados. Vivemos momentos desafiadores para o jornalismo, mas os vencedores são exemplos do bom jornalismo praticado no país", declarou o administrador do Pulitzer, Sig Gissler.
    O ex-técnico da NSA Edward Snowden, que vazou os documentos para o jornalista americano Glenn Greenwald e está asilado na Rússia, disse, em nota, que o prêmio é um "reconhecimento para os que acreditam que o povo tem um papel no governo".
    "Devemos isso aos esforços dos bravos repórteres, que continuaram trabalhando, mesmo sob enorme intimidação, incluindo a destruição forçada de materiais jornalísticos e o uso inadequado de leis de terrorismo", afirmou Snowden.
    Segundo Gissler, o nome de Greenwald não foi citado por essa ser a única das 14 categorias em que o prêmio é dado aos jornais, e não aos repórteres.
    Greenwald, que mora no Brasil, chegou a Nova York na sexta passada --em sua primeira viagem aos EUA após a publicação das reportagens-- para a entrega do Prêmio George Polk, também de jornalismo, pela série da NSA. Em outubro, Greenwald deixou o "Guardian".
    A editora-chefe do "Guardian" nos EUA, Janine Gibson, disse, por e-mail, estar grata pelo reconhecimento, após "um ano intenso e exaustivo", de que o trabalho realizado representa "uma grande realização para o serviço público".
    Por ser um prêmio destinado a organizações americanas ou com sede nos EUA, o Pulitzer foi dado à sede do "Guardian" em Nova York.
    Para o editor executivo do "Washington Post", Martin Baron, os jurados "reconheceram que essa era uma história extremamente importante, mas também especialmente sensível e difícil".
    Entre os livros, a escritora americana Donna Tartt, 50, levou o prêmio de melhor ficção, por "The Goldfinch". Com 784 páginas, o livro foi descrito pelo júri como "um romance sobre envelhecimento escrito de maneira bela, que estimula a mente e toca o coração". O romance sai no Brasil em setembro, pela Companhia das Letras.
    Folha, 15.04.2014

    quarta-feira, 9 de abril de 2014

    CRÍTICA DOCUMENTÁRIO/É TUDO VERDADE: Filme expõe inquietações permanentes do jornalismo


    O DIRETOR JORGE FURTADO CRITICA REPORTAGENS E FAZ UM ÁCIDO PAINEL DA PRODUÇÃO DE NOTÍCIAS
    ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULO
    Para que serve o jornalismo? Quais são os interesses subterrâneos numa notícia? Existe a tal neutralidade? Qual o poder da publicidade nos veículos? A internet vai acabar com os jornais impressos? Qual a força dos blogs?
    Inquietações permanentes e dúvidas mais recentes sobre o jornalismo são o foco de "O Mercado de Notícias", documentário de Jorge Furtado. Para tratar do tema, ele colheu depoimentos de 13 jornalistas e encenou uma peça teatral de 1625.
    A comédia "The Staple of News" [o mercado de notícias, em tradução livre] é do dramaturgo inglês Ben Jonson (1572-1637), contemporâneo de William Shakespeare. Aborda com ironia o jornalismo, exposto como um negócio no nascente capitalismo.
    Cenas dessa sátira servem de fio condutor e são intercaladas por entrevistas com jornalistas como Janio de Freitas, Mino Carta, Luis Nassif, Geneton Moraes Neto, Fernando Rodrigues, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete.
    Ética, inclinações políticas, interesses empresariais, falhas de apuração, erros: vários são os pontos analisados pelos profissionais. O cineasta critica reportagens, inclusive da Folha. O resultado é um ácido painel da produção de notícias, um reconhecimento das limitações e dos desafios da profissão.
    Os depoimentos percorrem temas como relações entre repórteres e fontes de informação, pressões políticas e de editores, arrogâncias, sensacionalismos, afoitezas, distorções de edição.
    Furtado pincela alguns tópicos da história geral do jornalismo, mas seu alvo são as vicissitudes atuais, que, de resto, expõem as questões de fundo que movem o trabalho.
    Rapidamente, o documentário fala da imprensa antes do golpe de 1964 --quando os jornais tinham nítidas colorações políticas-- e da sua adesão ao regime ditatorial.
    Entrevistados enxergam hoje em posições da mídia contra o governo do PT um inconformismo das elites e uma expressão da luta de classes. Entra no debate o conceito de Millôr Fernandes, para quem jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados.
    A força dos anúncios nos meios também é enfocada. De um lado, aparecem críticas ao uso da publicidade oficial. De outro, surge o argumento de que, como empresas capitalistas, os jornais são editados essencialmente para conter publicidade.
    A discussão sobre o impacto da internet fica em aberto: ninguém se arrisca a fazer previsões firmes sobre modelos de negócios e novas fórmulas de cobertura. Janio de Freitas afirma: "A culpa está nos jornais, não na internet". Para ele, "o jornalismo depende dos jornalistas".
    Folha, 09.04.2014

     
    www.abraao.com