quinta-feira, 27 de março de 2014

Novo serviço do 'NYT' quer atrair usuários de aparelhos móveis

Mais barato que assinatura regular, ele terá resumos curtos e conteúdo de outros jornais
DO "FINANCIAL TIMES"
O "New York Times" está lançando um serviço de assinatura mais enxuto para os usuários de aparelhos móveis, como parte de seus esforços para alargar a base de assinantes do jornal e conquistar novos leitores.
O serviço NYT Now estará disponível a partir de 2 de abril e custará US$ 8 a cada quatro semanas, mais barato que uma assinatura plena do jornal, em papel ou digital. "A ideia é oferecer um elenco de serviços diferentes", disse Mark Thompson, presidente-executivo do jornal. "Isso aumenta o apelo do New York Times' ao torná-lo maior que um só produto."
O NYT Now, que estará disponível inicialmente como um app para o iPhone, incluirá conteúdos de outras fontes e resumos curtos das reportagens mais longas do jornal, com links para versões mais extensas.
"São as principais notícias do dia, mas contextualizadas --um briefing matinal, na hora do almoço e no final do dia", disse Thompson.
O serviço também incluirá a chamada "publicidade nativa": anúncios mostrados em formatos mais próximos aos das reportagens, mas com indicação de que não são peças jornalísticas.
O jornal também lançou o serviço Times Premier, uma assinatura luxo dirigida aos seus assinantes "mais entusiásticos e envolvidos" e que custará US$ 45 ao mês.
"Acreditamos que exista a oportunidade de oferecer aos nossos assinantes uma gama mais rica de opções", disse Thompson.
O jornal conquistou 760 mil assinantes digitais pagos após adotar a distribuição paga de conteúdo, há três anos.
Folha, 26.03.2014

Jornal se mantém líder em receita nos EUA: Relatório sobre cenários da mídia mostra que imprensa diária responde por 61% do faturamento do setor de notícias

Estudo anual do Pew também destaca que organizações digitais vivem 'explosão', com expansão das Redações
NELSON DE SÁDE SÃO PAULO
Em seu relatório anual "O Estado da Mídia" nos Estados Unidos, o Centro de Pesquisas Pew informou ontem que os jornais respondem por 61% das receitas do setor de notícias no país.
O levantamento estima que os títulos originalmente impressos tenham somado US$ 38,6 bilhões dos US$ 63,2 bilhões levantados pelo jornalismo americano em 2013, inclusive telejornalismo.
Para Rick Edmonds, pesquisador do Instituto Poynter que colaborou com o estudo do Pew, "o peso dos jornais surpreende aqueles que caíram no meme [ideia que se dissemina rapidamente] da indústria moribunda'".
O que explica esse quadro, segundo ele, é que as receitas com circulação continuam firmes em US$ 10 bilhões, e a publicidade impressa, acima de US$ 17 bilhões.
"Os jornais se mostram capazes de se recuperar", diz Amy Mitchell, diretora de Pesquisa em Jornalismo do Pew. "Mas continuam se debatendo quando se fala de receita."
Não só os jornais. "As novas organizações digitais também não têm um modelo de receita para oferecer. Muito do seu dinheiro vem de indivíduos bilionários, de empreendedores."
Ela anota que "os jornais deram vários passos nos últimos dois ou três anos, com cobrança on-line, conferências, serviços de marketing on-line, um mix que ajuda a aliviar a pressão da queda na publicidade impressa".
PODER DE REPORTAGEM
Por telefone, de Washington, sede do Pew, Mitchell afirma que a novidade no relatório de 2014 é a "explosão" das novas organizações digitais, com o crescimento das Redações de "Vice", "BuzzFeed", "Gawker" e outros.
Os sites "estão reunindo mais poder de reportagem, em muitos casos com jornalistas saídos de veículos tradicionais, que são combinados a pessoas que entendem como a tecnologia funciona".
Tendo a internet como base e "escrevendo em inglês", essas novas organizações noticiosas teriam maior potencial de penetração internacional, levando à retomada na contratação de correspondentes estrangeiros.
"Isso é algo que não víamos havia muitos anos nos EUA", diz. "O que tínhamos era uma retirada, menos presença internacional, sucursais sendo fechadas, nas organizações tradicionais."
Ela diz que veículos originalmente britânicos, como o jornal "The Guardian" e a televisão BBC, "agora estão consistentemente entre os sites de maior audiência nos EUA", confirmando um quadro geral de "oportunidade para informação internacional".
Em contraponto à euforia com as organizações digitais, Mitchell acrescenta que, "se você olhar com atenção, verá que o impacto no jornalismo americano como um todo ainda é muito pequeno, em termos de repórteres e do total de dólares que arrecada".
Folha, 27.03.2014

terça-feira, 18 de março de 2014

Marcas deveriam liberar comentário negativo nas redes

ARENA DO MARKETING - HUGO RODRIGUES
Vice-presidente da Publicis afirma que empresas não devem temer críticas e que controvérsia estimular a adesão dos fãs
MARIANA BARBOSADE SÃO PAULO
O publicitário Hugo Rodrigues, vice-presidente de operações das agências Publicis, defendeu, durante a segunda rodada do Arena do Marketing, que as empresas se apresentem de forma mais transparente nas redes sociais, sem mediação de comentários negativos.
"As marcas não deveriam ter medo das críticas, mas sim da indiferença", diz Rodrigues. "Achar que você vai entrar na rede sem receber nenhuma crítica é utopia. Claro que a marca tem que ter mais vitórias do que derrotas, mas nem Deus é unânime. Seria mais saudável, para as marcas, permitir as críticas."
Rodrigues foi o segundo convidado do Arena do Marketing, evento mensal organizado pela Folha em parceria com a faculdade ESPM. O programa é voltado para debater as mudanças no universo da publicidade no Brasil.
Para Rodrigues, quando as empresas se abrem para as críticas, elas dão espaço para defensores reais. "Tem muita gente que se dói por uma marca", diz ele, que considera que em mercados mais maduros, como a Europa e os EUA, as companhias são mais abertas a comentários negativos de consumidores.
"No Brasil, temos um lado meio provinciano, tomamos tudo para o lado pessoal. Mas temos de ver que o cara está criticando, mas está ali, engajando com a sua marca." Ele diz, contudo, que não vê, no Brasil, marcas considerando a possibilidade de não ter mediador nas redes sociais.
Mediado pelo jornalista Morris Kachani, o bate-papo foi gravado ontem no estúdio da ESPM, em São Paulo, e contou com a presença do coordenador do curso de comunicação social, Paulo Roberto Cunha.
CLASSE C
Rodrigues falou também sobre a comunicação para a nova classe C. "Vivemos num país que prefere Lepo Lepo' a Chico Buarque e isso tem que ser respeitado."
Na sua opinião, a publicidade voltada para a classe C é necessariamente mais simples, pois há um problema sério no país de analfabetismo funcional (quando há dificuldade de interpretar textos).
"Se você simplifica a mensagem, você conversa com todo mundo. Mas você também empobrece a comunicação, e a criatividade sofre."
Para Rodrigues, a publicidade precisa informar e ajudar as pessoas a fazer escolhas. "Quando você tem múltiplas escolhas, fica mais vulnerável a outros impactos. E uma comunicação que fala de uma promoção, de um produto que traz vantagens, pode ser útil."
A necessidade de falar com a classe média explica, na sua avaliação, a presença maciça das celebridades nos comerciais. "Elas estão em todos os comerciais. Por quê? Porque todo o mundo gosta de fofoca. Todo o mundo, em algum momento, pega uma revista de celebridade, nem que seja escondido no banheiro. Temos de respeitar o gosto do consumidor."
Na sua visão, as marcas precisam entender melhor o consumidor, seus gostos e preferências. "As marcas, as agências e os clientes ouvem muito pouco o consumidor real, pois quem comanda as empresas e as agências têm gostos muito diferentes do gosto do consumidor", diz.
"Não conheço ninguém que assiste a Zorra Total', mas é um programa de audiência altíssima. Temos de sair das grandes capitais e ir para a Feira de Dourados (MS), que é frequentada por gente muito rica e simples."
Folha, 18.03.2014

Francisco, 1

NIZAN GUANAES
Bergoglio já é um símbolo do executivo moderno e, sem nenhum demérito nisso, um exímio homem de marketing
Jorge Mario Bergoglio, no próprio dia de sua transformação em papa Francisco, mostrou ao que veio. Em 24 horas, com foco, simplicidade e comunicação, desemparedou a Igreja Católica num dos momentos mais difíceis de sua história.
Um ano depois, segue o caminho da modernização, conquistando força dentro e fora da igreja para realizar a tarefa monumental que se impôs.
É uma das grandes lições em curso do management mundial. Um processo público de transformação de uma das maiores, mais importantes e mais veneradas instituições do planeta, com cerca de 1,2 bilhão de fiéis (o mesmo número de usuários do Facebook).
Azarão no conclave que o elegeu papa, Francisco não fez pesquisas nem testes para adotar a nova linha que quer dar à igreja. Foi intuitivo, consultou a alma. Como toda grande lição de gestão, esta é também uma grande lição de marketing.
Antes mesmo de aparecer na sacada do Vaticano como papa, ele recusou as vestes rebuscadas e optou pela simplicidade. Encontrou sua mensagem no DNA da igreja e usa todos os recursos do marketing para transmiti-la.
Mudou das vestes ao discurso, dos sapatos à postura, do carro à moradia. Veio anunciado por um sinal de comunicação ancestral, a fumaça branca, mas, ao completar seu primeiro ano papal, usou o Twitter para dizer aos seus mais de 3,5 milhões de seguidores: "Por favor, rezem por mim".
Francisco sabe do enorme desafio pela frente e usa a comunicação 360 graus, desde o primeiro dia, para explicar sua missão e conquistar apoio.
Começou pelo nome. Francisco. Uma palavra rica de significados num mundo carente de significados, um freio de arrumação não só na Igreja Católica mas na sociedade a quem deve guiar.
E não adianta só trocar os sapatos vermelhos da Prada por sapatos pretos mais simples, isso precisa aparecer. Não adianta só trocar o papamóvel luxuoso por um sedã popular usado pela classe média global, é preciso divulgá-lo. Afinal, comunicar sempre foi o papel da igreja. Para isso foram escritos o Velho e o Novo Testamento. Jesus disse aos apóstolos: "Ide e anunciai o Evangelho".
A mídia adora Francisco, especialmente a americana. Foi o primeiro papa na capa da revista "Rolling Stone", escolhido o homem mais elegante do mundo pela "Esquire" e eleito Pessoa do Ano pela "Time", nesta última derrotando o espião-delator Edward Snowden, o que levou alguns cínicos a dizer que a revista optou pela figura capaz de vender o maior número de exemplares, dada a enorme popularidade de Francisco --inclusive entre não católicos.
É nesse mundo cínico, midiático e ultraescrutinado que Francisco conduz a igreja. Um mundo segmentado, com clivagens cada vez mais distintas da tradição católica. Um mundo saturado de apelos e estímulos. Não é mais o mundo da fé, mas o mundo dos registros, no qual, como definiu um dos fundadores do Google, é impossível apagar a história.
Nessa conjuntura terrena e movediça, Francisco opera seus milagres. Tocando sua trombeta no Twitter e tirando "selfies" na praça São Pedro, reúne forças para levar a igreja de volta ao centro e minar tradições rígidas que afastam alguns dos melhores fiéis.
Quando pediram a Francisco que se posicionasse sobre o homossexualismo, respondeu com um já célebre: "Quem sou eu para julgar?".
Em um ano, sustentando discurso com prática, o papa convocou discussões sobre divórcio, uso de anticoncepcionais, união gay e métodos de contracepção; criou comissão sobre o abuso sexual de menores; adotou medidas para aumentar a transparência e a eficiência das finanças do Vaticano.
Como líder exemplar, age conectado aos anseios e ansiedades de seu rebanho, ou, em linguagem corporativa, de seus "stakeholders".
Por isso mesmo, Bergoglio já é um símbolo do executivo moderno e, sem nenhum demérito nisso, muito pelo contrário, um exímio homem de marketing. Transformou de forma fulminante a imagem de uma instituição ancestral, transportando-a dos palácios do Vaticano para o meio da rua.
Como todo bom executivo, ele sabe que é do chão da fábrica que se sustenta uma organização.
Folha, 18.03.2014.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Campanha eleitoral antecipada na internet

HÉLIO SCHWARTSMAN
SÃO PAULO - Um pouco por causa dos avanços tecnológicos, um pouco porque a regra já foi concebida para não funcionar, a Justiça Eleitoral enfrenta o dilema sobre o que fazer com a chamada propaganda eleitoral antecipada na internet.
Pela letra da lei nº 9.504/97, qualquer propaganda em qualquer meio de comunicação está proibida até o dia 5 de julho. Violações à norma acarretam multa ao responsável pela veiculação e ao candidato, se se provar que ele teve conhecimento prévio.
Se os magistrados forem rigorosos, dezenas de páginas precisariam ser retiradas da internet. O problema é que fazê-lo pode eventualmente significar uma violação ao princípio constitucional da liberdade de expressão. São tudo, menos inequívocas, as fronteiras entre a propaganda e a legítima manifestação de uma opinião política por um cidadão.
Se, num mundo sem internet, ainda era possível tentar distinguir as duas coisas por elementos materiais como a contratação de inserções publicitárias e a confecção de cartazes e santinhos, isso se tornou infactível com o advento da rede de computadores. Se quisermos complicar mais as coisas, daria para discutir se magistrados brasileiros têm jurisdição sobre sites e plataformas hospedados no exterior (eu entendo que não).
Essa situação só escancara o equívoco que é a tendência de nossos legisladores de hiper-regular. É claro que existem assuntos complexos que demandam ordenamento técnico detalhado. Eleições, entretanto, não estão nessa categoria. É até meio ridículo que a 9.504 desça a minúcias como definir o tamanho máximo da pintura eleitoral que eu posso pintar no muro de minha casa. São 4 m2.
Fica a impressão de que por aqui se toma o detalhismo legislativo como sinônimo de reforçar a institucionalidade, quando, na verdade, o melhor caminho para fazê-lo é elaborar regras fáceis de compreender e que dependam o mínimo possível de fiscalização para funcionar.
Folha, 12.03.2014
www.abraao.com

segunda-feira, 10 de março de 2014

Dinheiro já está fluindo de volta para o jornalismo X ou + mídias sociais?

ENTREVISTA DA SEGUNDA STEVE COLL
Diretor de uma das melhores faculdades do mundo, na universidade Columbia, diz que época é de desafios, mas futuro é promissor
RAUL JUSTE LORESENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Famoso por best-sellers que investigaram mundos muito fechados (CIA, Exxon Mobil, a família Bin Laden), o jornalista Steve Coll, 55, da revista "The New Yorker", assumiu a direção da Faculdade de Jornalismo da Universidade Columbia, uma das melhores do mundo na área, "em tempos de desafio para a mídia". "Mas sou um grande otimista", completa.
Para ele, a recessão nos EUA já acabou e há muitos novos investimentos em mídia a caminho. E uma cada vez maior consciência de que o jornalismo de qualidade "é caro, mas fundamental para a democracia".
Crítico de redes sociais como o Facebook, ele saiu da rede social "porque o contrato entre a empresa e os usuários é muito confuso" e "esses espaços comerciais não podem substituir os espaços públicos".
O diretor da Columbia recebeu a Folha em seu escritório, onde falou ainda sobre os investimentos de Jeff Bezos, da Amazon, no "Washington Post", jornal do qual Coll foi editor por uma década.
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Folha - O sr. se diz otimista com o jornalismo. Por quê?
Steve Coll - A recessão nos EUA acabou, então as receitas de jornais, revistas e TVs não estão caindo como durante a recessão.
Há um enorme boom de investimento em mídia. Tanto em Nova York quanto no Vale do Silício, está todo mundo atrás do novo "Buzzfeed", que, por sua vez, está contratando correspondentes no exterior.
Por último, há um reconhecimento cada vez maior, por parte de quem preza a democracia e valoriza o bom jornalismo, do seu valor.
É nesse mundo que está Pierre Omidyar e sua iniciativa de nova mídia, "First Look", e várias ONGs que patrocinam jornalistas e investigação. Cada vez há menos dúvida da importância do jornalismo para investigar políticos, trazer a prestação de contas e transparência dos órgãos públicos.
O sr. é otimista quanto ao financiamento do jornalismo também?
Há um desafio quanto ao financiamento do jornalismo e os jovens jornalistas terão que inventar suas carreiras de forma mais empreendedora. Terão que mudar de patrão mais frequentemente. A minha geração é a última dos servidores públicos do jornalismo.
Mas há modelos bem-sucedidos por aí. A revista "The Atlantic" fez um transição muito bem-sucedida do papel para o digital e o "Buzzfeed" já conseguiu transformar sua audiência em receita.
E o jornalismo na TV paga aqui é imensamente lucrativo, basta ver os lucros da Fox News, da MSNBC, e da Bloomberg. Elas podem bancar várias estratégias em novos meios.
O editor do site "Buzzfeed", Ben Smith, diz que as redes sociais se transformaram na nova "primeira página" dos jornais, que é onde se informam os leitores. O sr. saiu do Facebook dizendo que ele é confuso. Perdem os leitores?
O papel do editor de jornal ou da TV é de tomar decisões profissionais. Fazer um mix do que é importante, do que é divertido, do que é local e global. Essas discussões nem sempre servem ao leitor, mas não há dúvida de que temas sérios de investigação ou reportagens de assuntos globais tinham seu espaço.
Eles seriam negligenciados se tratássemos a primeira página como uma disputa de voto popular, do que é mais pop. Todas as Redações profissionais estão no Twitter, e elas estão usando seu pensamento de primeira página no site. Já o Facebook é muito poluído pelo comércio.
O sr. anunciou sua saída do Facebook no seu blog na "New Yorker" como "um exercício de cidadania". Poderia explicar melhor?
Decidi sair em 2012 e não sinto falta nenhuma. O Twitter é mais sob medida às minhas necessidades. Não me sinto tão explorado quanto no FacebookEu li o contrato e as regras do site e tudo me pareceu muito pretensioso, escrito como uma Constituição, mas de um Estado do qual eu não gostaria de ser cidadão.
Muitos usuários parecem não se importar com o uso de seus dados para fins comerciais.
Muita gente não se importa com essa praça pública porque não está sob risco de vida ou de atrair violência por suas opiniões, ou não está tão preocupada com sua privacidade ou o uso comercial dela.
Eu gostaria de ver mais consciência pública de que esses espaços comerciais não podem substituir os espaços públicos de debate.Seria como um shopping center substituir a calçada ou a praça.
O sr. foi o número 2 do "Washington Post" por uma década. O que sabe das mudanças no jornal desde que foi comprado por Jeff Bezos, dono da Amazon?
Do que escuto de amigos e colegas, o começo da gestão Bezos é bem positivo. Ele manteve o editor-executivo, Marty Baron, que é forte, um bom sinal para a Redação.
Ele disse aos repórteres "vocês não vão escutar nada de mim, vocês já têm um editor". E ainda houve anúncios de vários investimentos, contrataram bons nomes para a Redação, reforços na equipe.
Ainda é difícil saber a visão dele para o jornal, mas ele tem dinheiro e pode usar seus talentos para os problemas do negócio, pode trazer soluções sobre como usar dados e incrementar o varejo, o que ele fez na Amazon.
Tanto Chelsea Manning [militar que divulgou informações confidenciais pelo Wikileaks] quanto Edward Snowden [ex-analista de inteligência que divulgou informações sobre espionagem nos EUA] preferiram fazer suas revelações a jornalistas e meios de comunicação no exterior. Diferentemente de Daniel Ellsberg, que entregou seus papéis do Pentágono ao "New York Times" e ao "Washington Post". A nova geração não acredita na imprensa americana?
Manning estava atraído pela promessa de transformação radical do Wikileaks e ele não podia se aproximar facilmente de jornalistas.
Acho que Snowden pensou mais em como editar e controlar a divulgação e buscou algo intermediário, Greenwald, um colunista do "The Guardian", e um jornalista do "Washington Post". A decisão diferente foi revelar sua identidade logo de cara.
O que mudou mesmo foi como a informação se tornou facilmente portátil para um delator. A maior dificuldade para Ellsberg foi como circular aquela papelada toda. Hoje tudo cabe em um pen drive.
O sr. escreveu em seu blog que a elite americana desprezou as denúncias de Snowden "porque todo mundo espia todo mundo".
Entre as deficiências que ficaram evidentes após as denúncias de Snowden é que há uma falta de julgamento político sobre as operações de inteligência e que a NSA estava complacente e arrogante, presumindo que a espionagem nunca seria revelada.
A CIA, muito acostumada a vazamentos, faz revisões anuais sobre suas operações. "E se esta operação for descoberta e exposta, vale a pena ser feita?", eles sempre calculam o prejuízo político.
A NSA parece que nunca julgou se grampear o celular da Angela Merkel valeria a pena. O estrago político é muito alto, só valeria se um líder estrangeiro é suspeito de complô. Insultar aliados ou países amistosos cria custos maiores que os benefícios.
O sr. também escreveu que Obama talvez não soubesse da escala da espionagem. É possível?
A historia é cheia de conselheiros que não informam os presidentes, então eles podem negar sem culpa. Se mostram a ele um relatório sobre uma alta autoridade alemã que estava conversando com Putin e disse isto e aquilo, só pode ser a Merkel, claro, mas vamos fingir que não sabemos. É como o mundo funciona.